sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dez motivos pelos quais você deveria assistir ao filme Para Sempre Lilya


Saudações, galerinha do mal! Hoje peço vossa licença (peço nada, o blog é meu!) para falar aqui de um filme sensacional que há tempos estou querendo divagar sobre. Para Sempre Lilya (Lilja 4-Ever / Suécia, 2002) é definitivamente um dos meus filmes favoritos 4-ever (hehe), que me deixou emocionado da primeira vez que o vi (e nas outras vezes também), me impressionou pra valer e me fez querer que todo mundo o assistisse também. Então tive a idéia magnânima que só os raros e humildes gênios escolhidos por Loki como eu têm de enumerar dez motivos para convencer vossas mercês a darem uma olhada nessa película top de linha.
Agora, se após ler este post você ainda não se interessar em ver o filme... Desista. Sério, sério. Desista. Vá assistir algum filme das irmãs Olsen. Um daqueles que elas vão passar férias em um lugar paradisíaco (não, no Iraque!) e tem que salvar golfinhos de empresários gananciosos e cheiradores de cocaína. Ou vá assistir Grávida aos Dezesseis. Ou Chapolin mesmo. Aquele episódio dos duendes.
Peraí! Chapolin é legal! Chapolin é do caralho!!! Você não merece assistir Chapolin!!!!
                                      
Vamos logo aos motivos antes que eu perca a paciência de vez e rode a baiana aqui.


É o melhor filme do grande diretor Lukas Moodysson

Err... Ok.

Já falei de outro filme desse cara aqui no Análise, o adorável Amigas de Colégio. Este foi seu debut, seu primeiro sucesso e o filme pelo qual sempre será lembrado e referenciado em um primeiro momento. Sempre que você ouvir falar ou ler sobre Moodysson, será algo do tipo “o diretor de Amigas de Colégio” ou coisa assim. Mas o premiado Lilya 4-Ever é seu melhor. Eu já assisti todos os filmes desse elemento – todos muito bons (uns mais que outros) – mas nenhum supera Lilya, película a qual teve inspiração máxima do diretor e tornou-se sua obra-prima.

Pra quem ainda tá chocado com o final de Lost e anda meio desligado das coisas essenciais (faz-me rir) da vida, o sueco Lukas Moodysson é um dos cineastas europeus mais badalados dos últimos tempos. Sempre polêmico e provocador, transmite suas idéias através seus inovadores filmes, geralmente aclamados pela crítica. Então ser o melhor filme de um diretor como esse não é pouca merda, não.
Tá certo que o cara faz cotoco enquanto usa tiara de pelúcia com orelhinhas, e tiara de pelúcia com orelhinhas só fica bem na Marimoon, que é o ser mais lindo do universo.
Quê?? Você não acha a Marimoon o ser mais lindo do universo??? ENTÃO VÁ AO CÃO!!!

É um filme que expõe e critica cruéis realidades

Essa é a cena que me lembra Maria do Bairro mais dramática de todos os tempos.

Eu não gosto de contar o enredo de filme nenhum. Sempre que eu recomendo um filme pra alguém e a pessoa pergunta “é sobre o quê?”, eu me aborreço logo e faço cara de nojento. Não me perguntem por que, eu só não gosto. Mas agora terei que fazê-lo. Arf!
Lilya é uma garota que vive em algum lugar da antiga União Soviética – Mas precisamente na Estônia – com a mãe, uma ex-prostituta que vai se mudar com ela e o atual namorado para os EUA. Pelo menos é o que ela pensa, pois o casal vai só pra terra do Tio San, deixando a garota sozinha e sem dinheiro, e com seu destino mais incerto que o do Orkut. A patir daí Lilya é abandonada e por quase todos ao seu redor e é obrigada a se prostituir, vida essa que parece difícil de sair mesmo quando ela não quer mais.
Moodysson faz uma crítica aqui ao abandono, às instituições de auxilio ao menor e ao tráfico sexual escravo, atividade presente na Suécia (para onde Lilya é levada em certo ponto do filme), país no qual existe uma legislação que penaliza a compra, mas não a venda de sexo ‘profissional’ em seu território.
O diretor também alfineta o modo como todos viramos consumistas loucos com a globalização, e como o american way of life exerce uma influencia absolutamente controladora em nossas mentes. Lilya vê os Estados Unidos como o grande o Jardin do Éden, se orgulha em ter nascido no mesmo dia em que Britney Spears e seu sonho de consumo é comer no McDonalds.

Não é apelativo, e mesmo assim nos faz sentir na pele o que quer transmitir


De fato, Para Sempre Lilya não é um filme de fácil digestão. Trata-se de uma película que, embora belíssima, é brutal e difícil de assistir. A intenção do diretor foi proporcionar ao espectador a sensação de desespero, desilusão e sofrimento, testando sempre sua resistência. Somos apresentados ao mundo pelos olhos das crianças, que a principio são vitimas inocentes dos adultos, representados como opressores e carrascos.
O interessante é que isso é feito de forma sutil e não apelativa. Não há nudez na fita, e as cenas de sexo entre Lilya e seus clientes são mostradas em seqüências que parecem infinitas, em close-ups de rosto, respiração ofegante e sempre do ponto de vista da protagonista, com isso passando a sensação a quem vê de estar sentindo toda a angustia da garota da maneira mais tangível possível.
É interessante o quanto isso se mostra mais eficaz do que em cenas explícitas, pois no desconhecido é onde reside o maior temor em nós e a imaginação se expande para o sofrimento.
Um exemplo inverso deste tipo de abordagem no filme Thriller: A Cruel Picture, onde as cenas da protagonista transando com seus clientes são mostradas em closes de sexo explícito (imagens de arquivo, obviamente). Isso me incomodou um pouco, pois achei extravagante e desnecessário, apesar de adorar o filme. Uma vez discutindo o mesmo com um colega meu, ele disse que tais cenas eram necessárias, pois a intenção era nos fazer passar pelo sofrimento da personagem. Isso faz tempo, e nessa época eu ainda não conhecia Lilya para retrucar com um bom exemplo. Droga!

A trilha sonora é duka!


Não é um item primário, mas vocês sabem o quanto isso exerce influência em uma película. É um daqueles filmes em que a música permeia em várias cenas, o que ajuda a tornar o filme ainda mais marcante. A maioria das músicas tem uma pegada eletrônica, o que combina bastante com o clima frio, inóspito e decadente onde o filme é ambientado. Não acha que música eletrônica combina com tudo isso?? Eu também não achava, mas assiste o filme pra você ver!
As músicas vão do flashback oitentista de Forever Young da banda Alphaville ao rock industrial e pesado da banda alemã Rammstein, com a ótima música Mein Herz Brennt, em uma memorável cena inicial onde Lilya aparece correndo desolada pelas ruas.
As músicas instrumentais tristes de fundo também ajudam a deixar as cenas tensas e deprês do filme ainda mais tocantes e poéticas.

Os personagens são verossímeis e bem elaborados


Sem maniqueísmos. Nada de caricaturas bidimensionais apresentadas na tela. O que vemos são personagens que, embora não apresentem nada de extraordinário, tem uma construção bem trabalhada e convincente. E isso tanto os protagonistas quanto os personagens secundários. A heroína Lilya, apesar de esbanjar carisma, é claramente uma garota de dezesseis anos super normal e até mesmo uma filha da putinha. Isso percebe-se em algumas cenas, como quando trata mal caixas de supermercado e também sua senhoria, mesmo quando não tem mais onde cair dura. Ou seja, mesmo sendo vítima das conspirações do universo, isso não faz dela uma santa, algo que é muito normal de ser mostrado no caso de protagonistas sofridos.
Também percebemos muito realismo por parte dos personagens secundários. Onde melhor se nota isso são nos clientes de Lilya. Alguns caras nos dão um panorama de suas vidas apenas com as poucas coisas sobre eles apresentadas em suas rápidas aparições. Como o tiozinho extremamente solitário e triste que a recebe em casa e tem os cabelos claramente tingidos de preto numa tentativa grotesca de manter a juventude. Em outro percebemos uma tendência a pedofilia quando pede a Lilya que haja como uma filha sua antes do sexo.
Isso são só alguns exemplos. Enfim, todos os personagens são muito bem construídos e executados com perfeição. Mas é claro que isso só poderia acontecer porque...

O elenco é soberbo


É incrível como Moodysson sabe escolher a dedo com quem trabalhar. Isso faz com que a maioria de seus personagens tornem-se inesquecíveis. Mais uma vez o cara acertou a mão, principalmente com o casal de protagonistas. Oksana Akinshina dispensa comentários (mas os farei mesmo assim). É ela a estela máxima do filme, sua personagem título está em praticamente todas as cenas e a garota carrega o filme inteiro nas costas. Além do que ela é linda. Ai, ai, ai... Er, bom, não que isso venha ao caso.
E caso você seja um mero consumidor-escravo do cinema norte-americano (olha quem fala), ela fez uma ponta em A Supremacia Bourne.
Quem não fica nada atrás (a não ser em beleza, claro) é o garoto Artyom Bogucharsky, o interprete do garoto Volodya, amigo inseparável e cheira-colinha de Lilya. Os dois conseguem interpretações incríveis, daquelas que conseguem nos emocionar de verdade e transmitir um realismo impressionante, seja nos momentos mais cruciais ou em mínimos detalhes de seu cotidiano juntos.

É um filme filosófico, inteligente e com ótimos diálogos


“A morte é uma eternidade e a vida é muito breve”.
O filme nos apresenta muitas reflexões acerca da vida, nunca nos forçando a seguir determinado tipo de pensamento, mas deixando-nos escolher que linha seguir. Um exemplo disso é em relação à religião, uma válvula de escape de Lilya que, conforme sua vida vai piorando, vai perdendo as forças.
A conversa entre os dois amigos em cima de um prédio é de uma genialidade ímpar, na qual Lilya pensa em se jogar por estar cansada da vida, e Volodya lhe argumenta: “Lembra daquela vez que estávamos no banco e você estava escrevendo ‘Lilya Para Sempre’ nele? E aí aqueles babacas cuspiram na gente? Eu disse para irmos embora, mas você disse que não estava pronta, pois queria terminar de escrever. É o que está acontecendo agora. Todo mundo está cuspindo em você, mas você ainda não está pronta. Não tem problema se você pular, eu te pego. Mas aí você perde e os babacas vencem.”

Consegue mesclar a realidade, o surreal e o não-linear


Quêêê??? Taí um item da lista que parece uma mistura e poderia ser dividido em vários tópicos diferentes. Mas se você procura alguma lógica, deveria ter saído deste blog há muito tempo. Aliás, não devia nem ter vindo aqui.
O fato é: Apesar de ser um filme extremamente realista, Lilya 4-Ever consegue converter a si próprio em situações e questões totalmente, digamos, metafísicas. A ‘garota da capa’ e seu amigo Volodya de vez em quando são vistos em momentos totalmente surreais, como se estando mais do que em um sonho, mas em uma realidade paralela ou além deste plano. Isso começa a ocorrer a partir de certo ponto do filme, quando todas as esperanças já estão se esvaindo, pois, como eu já disse, o filme trata também de questões teológicas.
Outra coisa igualmente interessante é a maneira como Moodysson tratou o roteiro do filme, o transformando mais do que em algo convencional do tipo ‘começo meio e fim’.
Certas cenas se repetem ao longo do filme e algumas até mesmo mostrando nova versão dos acontecimentos, como se tal personagem, como estando em um jogo de vídeo game, ganhasse uma segunda chance, uma espécie de redenção. Mesmo que isso aconteça perante últimas conseqüências. 

É uma baita lição de vida


A maioria dos filmes, desenhos, seriados e qualquer coisa do tipo (que tipo?) mostram o valor da amizade de maneira tosca e - talvez por causa disso – muitas vezes pouco eficaz. Claro que dá pra dar e tirar umas lições legais em tudo, mas não dá pra negar que é uma arte fazer isso de uma maneira não piegas.
Não é o caso aqui. Lilya é abandonada pela própria mãe e pelos amigos, difamada por todos, enganada pelo namorado e passa a viver na rua da amargura. Mas é aí que conhecemos sua amizade com o garoto Volodya, e vemos o quanto ela é bonita e poderosa. O garoto - que também vive nas ruas após ser expulso de casa por seu enlouquecido pai – e Lilya só podem contar um com o outro. Há momentos realmente tocantes, como quando Lilya é estuprada por uns quatro caras e Volodya tenta em vão impedi-los, e quando os dois se reencontram e se reconciliam depois de um tempo.
O filme nos faz refletir sobre em quem realmente podemos confiar e sobre superar as dificuldades que a vide impõe, mesmo que tudo pareça perdido.

A conclusão é ambígua, imprevisível, linda e não apela para os ‘finais fáceis’ [NO SPOILERS]


Vou citar um exemplo bem tosco de final fácil em filmes: Jimmy Bolha, com Jake Gyllenhaal. O cara passou a vida achando que não tinha anti-corpos e por isso passou a viver dentro de uma bolha, até que ao final do filme ele descobre que era tudo uma mentira, e que era mais saudável do que Keith Richards antes da primeira troca de sangue. Final feliz pra todo mundo.
‘Para Sempre...’ não apresenta saídas esdrúxulas e simplificadas. Portais mágicos não brotam do chão com soluções pra todo mundo, e Silvio Santos está bem longe dalí com sua Porta da Esperança (que nem existe mais, né?).
Não é um final previsível, acreditem. Aliás, a maior parte do filme parece seguir um caminho diferente do que achamos que vai seguir. Quando desemboca no final, temos uma conclusão dramática, aberta a interpretações no que tange à moral do filme e uma ultima cena belíssima. Sério, a cena final é de uma beleza poética das mais lindas que já vi.
É um final triste e feliz ao mesmo tempo. Te confundi? Problema teu! Hehe...

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Então é isso, zumbis internáuticos. Achou essa lista de motivos sem sentido e redundante? Talvez eu também, mas quem liga, não é? E acho que esses são algumas razões que fazem com que Para Sempre Lilya seja um dos meus filmes favoritos, talvez o segundo favorito de todos os tempos.
O meu filme favorito?? Talvez um dia eu crie coragem e diga qual é e até mesmo fale sobre ele aqui, mas preciso de muito amadurecimento ainda. Sério, ele não é motivo de orgulho pra ninguém.
E depois de toda essa propaganda aposto que a primeira coisa que você vai fazer é... Dar uma mijada, pois esse texto foi longo. Mas depois disso tenho certeza que você vai dar um jeito de conseguir esse filme nem que seja a ultima coisa que você faça, não? NÃO?? Então faz o seguinte, amigo: Sobe naquela árvore ali e chupa aquela manga que tá bem ali. É, aquela maior. Tá uma delícia, rapaz! Depois toma um copo de leite bem morninho. Faz um bem da porra pra pele, você verá.

E já fiquei de saco cheio, então nos vemos na próxima! Abssss

8 comentários:

  1. Rapaz, tava baixando um filme do Orzon e sem qrer, enquanto tava dando uma olhada nos últimos coments do meu blog, vi essa última atualização sua

    O comentário da manga foi muito bom.

    Mas então, gosto do Moodysson desde quando eu vi "Show Me Love", e o "Together", que é o filme dele que eu mais gosto.
    4 Ever é muito interessante, lembro de ter visto no Festival do Rio e de ter considerado o melhor que eu tinha assistido naquele dia, portanto, compreendo o seu fanboysmo XD.

    Além do mais, não é de hoje que os diretores escandinavos tiram onda né...

    Apenas duas ressalvas, esqueceu de dizer também (não que seja algo necessário) que o final de Jimmy Bolha é uma cópia da conclusão de A Primeira Noite De Um Homem, mas como disse é bem desnecessário e obviamente vc já sabia disso.

    E eu não suporto a Marimoon, eu queria vê-la morta embaixo de um vulcão em Vênus.

    Parabéns pelo post. Mto bacana.

    (mas o do Jason e de Invasores de Marte, particularmente, preferi XD)

    Abraço

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  2. Valew cara, também adoro Together. Aliás, meus filmes favoritos de Moodysson sao disparados os 3 primeiros. Talvez um dia eu fale sobre Together tb, em forma de análise.

    Aff, vc nao gosta da Marimoon???? MORRAAAAA!!! é papo.

    Eu tinha sacado essa parodia (?) de A Primeira Noite De Um Homem, filme aliás q tb acho ter um final meio forçado. Aff, akela fulga do casamento foi meio tosca e destoa um pouco do resto do filme, q nem por isso deixa de ser excelente.

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  3. concordo, acho o final mt nada a ver, tb

    ah, e caso tenha espaço para sugestões... ....faz alguma resenha sobre o Werner Herzog

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  4. Pode crer, faz tempo q tenho pensado em fazer uma resenha de Fitzcarraldo (meu favorito dele). Um dia farei!!

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  5. Estou me ensaiando para ver este filme faz um tempo... acabava sempre arranjando uma desculpa... deixando para lá...
    Mas, depois desta... De hoje não passa!
    hehehehe

    ;D

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  6. Cara, é sensacional como vc faz uma resenha do filme, de forma bem pessoal, descontraída e inteligente. Além de suas impressões pessoais, vc consegue transmitir o que de fato o filme tem a oferecer. Show de bola, e gosto muito de filmes nessa linha. Sugiro a você, nessa linha de cinema verdade, digamos assim, com mensagens e imagens fortes, o "Meninos não choram". É filme também difícil de digerir, mas que mostra com rudeza e poesia o que quer passar!

    Abração

    http://estacaoprimeiradosamba.blogspot.com/

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  7. Oi Bruno!
    Olha o meu preferido do Tarantino ainda é Pulp Fiction...aquele é um clássico. Ah sim o Mr. Pink é impagável..mas o mais divertido é ver o Tarantino atuando!

    Olha, primeiramente...resenha SENSACIONAL!!!
    Eu não conhecia esse filme mas pelo que li fiquei muito interessada em ver. Os filmes europeus estão cada vez melhores, mostrando uma força para o mundo que antes ficava restritos apenas aos fanáticos entendidos por cinema e alternativos.

    Muito bom..acaso vc sabe de algum site onde exista esse flme pra baixar?

    http://www.empadinhafrita.blogspot.com

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  8. onde posso ve-lo na internet? não acho por nada!

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